Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018: Muros de Ar - Cartografias

O conceito e título Muros de ar foi pensado para responder à proposta Freespace, das curadoras Yvonne Farrell e Shelley McNamara, como uma provocação capaz de questionar: 1. as diferentes formas de muros que constroem, em diversas escalas, o território brasileiro; 2. as fronteiras da própria arquitetura em relação a outras disciplinas.

Assim, partimos para uma reflexão sobre o quanto a arquitetura no Brasil e seus desdobramentos urbanos são de fato, livres. Sem a pretensão de chegar a uma resposta, mas com a ambição de abrir a conversa para um público grande e diverso, optamos por tentar tornar visíveis processos que muitas vezes não são percebidos, em função de sua natureza ou escala. As barreiras imateriais que são erguidas entre pessoas ou bairros, e os processos de urbanização do Brasil em uma escala continental são exemplos de questões sobre as quais nos debruçamos. 

Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018: Muros de Ar - Cartografias - Mais Imagens+ 38

O conteúdo foi construído a partir do mais amplo entendimento possível da arquitetura, relacionando a disciplina aos diversos campos e forças que compõem o meio físico contemporâneo.

Organizamos a pesquisa em dez grandes abordagens/linhas de estudo, com a intenção de revelar, em diferentes escalas, uma nova perspectiva sobre os processos de urbanização em andamento no Brasil.

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Para pesquisar cada uma destas abordagens – e materializar a intenção de envolver uma equipe maior e mais diversa no processo de construção da exposição –, montamos um conselho multidisciplinar e convidamos para participar dele agentes e profissionais de destaque em campos variados: cineastas, historiadores, incorporadores imobiliários, ativistas, artistas, empresários, geógrafos, antropólogos, médicos, gestores públicos, matemáticos, advogados, pixadores e cientistas de dados.

Com um representante por tema, o conselho multidisciplinar teve a tarefa de orientar a equipe na investigação e apontar fontes e caminhos para o uso dos dados e o desenvolvimento das ideias. Parte desta troca foi registrada em entrevistas, que estão publicadas no catalogo desta exposição. Elas foram planejadas e editadas com a colaboração do coletivo Entre, do Rio de Janeiro; e gravadas com a parceria do Arq.Futuro.

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Paralelamente, sondamos o panorama nacional de pesquisadores e profissionais com trabalhos relevantes, no espectro dessas dez abordagens, e convocamos mais de vinte especialistas para escrever ensaios aprofundando cada uma delas. Alguns trabalharam sozinhos, outros envolveram na tarefa seus grupos de pesquisa, universitários ou de empresas privadas. De Norte a Sul do país, este grupo de pessoas torna visíveis, com seus textos, as inúmeras maneiras de entender os muros que conformam nosso país e, assim, de refletir sobre o significado de Freespace.

Juntaram-se à consultoria e ao intercâmbio com estes profissionais dinâmicas de trabalho envolvendo mais de sessenta imigrantes; um workshop com estudantes do mestrado da escola de arquitetura do Massachusetts Institute of Technology (MIT); e, sobretudo, a mineração rigorosa de dados realizada por nossa equipe de jovens arquitetos: baseados em São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York e Boston, eles se dedicaram exclusivamente a dar consistência e precisão à pesquisa.

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O resultado desta complexa constelação de pessoas, que trabalharam incessantemente durante seis meses, toma no Pavilhão do Brasil a forma de dez grandes desenhos cartográficos. Com 3 × 3 metros cada um, foram criados especificamente para a mostra Muros de ar, e cartografam de forma minuciosa as dez abordagens que nos parecem relevantes na prática daqueles que são responsáveis por construir o meio físico, sejam arquitetos ou não.

  • 10 abordagens
  • 10 escalas
  • 10 maneiras de entender a arquitetura e de relacioná-la com outras disciplinas

A escolha de uma linguagem cartográfica para apresentar essas pesquisas foi uma das primeiras e mais enfáticas decisões de nosso projeto expográfico. A escolha se deu em parte para fugir de modelos tradicionais de exposição, saturados de imagens realistas (fotografias, renders etc.); e, por outro lado, com a finalidade de unir o desenho, recurso clássico e principal do arquiteto para representar o espaço, com ferramentas avançadas de georreferenciamento.

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O formato dos painéis, de enorme dimensão, remete à incomensurável extensão do território brasileiro, o quinto maior do mundo, e permite perceber as centenas de camadas sobrepostas que a pesquisa descortina. São narrativas dentro de narrativas.

Ao mesmo tempo em que trazem novas maneiras de compreender a informação exposta, os desenhos carregam uma estética cuidadosamente articulada que, de certa forma, remete à ideia da pintura e à relação com o mundo das artes visuais, impossível de excluir no contexto da Bienal de Veneza.

1. Cruzamentos - Arquitetos brasileiros no exterior

Quão franca é a troca dos arquitetos brasileiros com o mundo?

Cruzamentos. Arquitetos brasileiros no exterior. Quão franca é a troca dos arquitetos brasileiros com o mundo?. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

A figura do arquiteto é cada vez mais associada com aquela do cidadão global. Especificamente no Brasil, o crescente movimento de estudantes e profissionais de arquitetura para o exterior tem sido motivado por melhores oportunidades de desenvolvimento de carreira frente à instabilidade econômica do país. Essa condição de trocas internacionais traz à tona questões sobre a permeabilidade da disciplina com relação a influências internacionais, sobre as condições do mercado nacional, e sobre os benefícios de práticas globais. 

Iniciativas federais de intercâmbio, em parceria com universidades locais e internacionais, têm sido um importante estímulo para o movimento de estudantes para outros países, especialmente nas últimas duas décadas. O programa Ciência sem Fronteiras, implementado em 2012, ofereceu bolsas para estudantes brasileiros em uma escala sem precedentes no país, criando uma rede de colaboração internacional. Porém, devido à recessão no país em 2015 e o alto custo de implementação do programa, o Ciência sem Fronteiras foi oficialmente cancelado em 2016. 

Cruzamentos. Arquitetos brasileiros no exterior. Quão franca é a troca dos arquitetos brasileiros com o mundo?. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

Para entender melhor a magnitude de tais fluxos e refletir sobre o potencial impacto de tais políticas, o mapa “Crossbreedings“ apresenta os resultados de coleção de dados por instituições especializadas bem como por meio da plataforma pública no site Muros de Ar. O mapa é focado nos continentes Americanos e na Europa Ocidental, áreas que registram maiores fluxos de intercâmbio. Os spikes em cada área representam o número de estudantes Brasileiros de arquitetura recebidos por universidades entre 1988 e 2016. Os dados foram coletados pela principal agência governamental Brasileira de intercâmbios estudantis (CAPES). As instituições estrangeiras estão listadas ao longo da circunferência, onde diagramas mostram o número de novos estudantes por ano. O ano de 2012 é representado em vermelho, marcando o início do programa Ciência sem Fronteiras.

No território brasileiro, cada spike representa o número de arquitetos registrados e ativos em cada cidade, de acordo com as informações do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU). O diagrama correspondente mostra a proporção entre homens e mulheres nas 400 cidades com o maior número de profissionais registrados.

Colaboradores: Eduardo Aquino, Claudio Haddad, Ana Luiza Nobre 

2. Fluxos Humanos - Assimilação cultural como diluição de barreiras

Quão aberto é o Brasil à recepção de imigrantes?

Fluxos Humanos. Assimilação cultural como diluição de barreiras. . Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

“Fluxos Humanos“ propõe visualizar as diversas ondas de deslocamento de pessoas para o Brasil, responsáveis por uma composição social e urbana cada vez mais complexa nas últimas décadas. Uma análise sócio-espacial do território brasileiro tenta entender quão aberto o país é para imigrantes, e quão viável é a extinção de barreiras sociais, culturais e políticas intrínsecas aos fluxos internacionais de pessoas.

A cultura brasileira foi historicamente marcada pela miscigenação de estrangeiros e brasileiros. Desde a fundação do país ao desenvolvimentos de suas políticas de relações internacionais, a abertura política trouxe a inevitável urbanização do território e a confusão de dinâmicas externas e internas. Além disso, o conceito de imigrante urbano é crescentemente presente no cotidiano das cidades, devido aos intensos movimentos de migração.

Fluxos Humanos. Assimilação cultural como diluição de barreiras. . Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

O mapa mostra fluxos migratórios no período entre 2000 e 2016, divididos entre fluxo de entrada de refugiados (vermelho), entrada de imigrantes internacionais (azul), e fluxo de migrantes. Os gráficos indicam a direção e intensidade de tais movimentações, conectando linhas entre cidades brasileiras, ou entre cidades brasileiras e outros países, listados na circunferência. Além disso, a linha do tempo ao redor do mapa permite a visualização de mais de um milhão de imigrantes de acordo com o país de origem. Na mesma sessão, o aumento ou diminuição dos fluxos é representado anualmente, de acordo com a variação do diâmetro dos círculos.

Finalmente, como resultado de um workshop organizado em São Paulo em Janeiro de 2018, o mapa também ilustra as jornadas de 23 famílias, descrevendo o caminho de seus países de origem até suas atuais casas. Migrando em grande parte em busca de novas oportunidades, suas jornadas são enumeradas juntamente com as narrativas que descrevem as diferentes barreiras que essas famílias tiveram que cruzar antes de chegar em seus destinos.

Colaboradores: Carla e Eliane Caffé , Ana Carolina Tonetti e Ligia Nobre, Paula Miraglia, Gabriel Zanlorenssi e Rodolfo Almeida
Workshop: Angela Quinto, Carmen Silva, Cássia Fellet, Juliana Caffé, Preta Ferreira, Nathalia Lima, Thalissa Burgi, Rafael Migliatti, + 63 imigrantes

3. Fluxos Materiais - Rastros físicos da negociação de commodities

Quão sensível é o ambiente urbano à movimentação de commodities? 

Fluxos Materiais. Rastros físicos da negociação de commodities. Quão sensível é o ambiente urbano à movimentação de commodities?. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

Ao redor do mundo, a evolução de cidades é relacionada à produção primária – agricultura, pecuária e extração de recursos naturais. O caráter essencialmente agrário, exportador do Brasil foi historicamente marcado por grandes ciclos de produção. Atualmente, o país tem um papel significante na produção global de produtos primaries, especialmente soja, minério de ferro, açúcar, petróleo e aves. Apesar da produção ser localizada especialmente nas áreas rurais do centro-oeste do país, a distribuição desses produtos passa pela costa leste do Brasil, onde também estão localizadas as grandes metrópoles do país. Por isso, densas regiões urbanas, que já apresentavam sistemas de transporte e distribuição problemáticos, enfrentam o desafio de planejar redes de transporte ainda mais complexas, e que possam acomodar a circulação de commodities. 

Fluxos Materiais. Rastros físicos da negociação de commodities. Quão sensível é o ambiente urbano à movimentação de commodities?. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

“Fluxos Materiais” apresenta a paisagem criada pelo impacto da produção primária no Brasil, focando especialmente em quarto questões: a tradução especial de commodities brasileiros; como commodities circulam pelo país; qual a proporção entre produtos de importação e exportação, e quais as implicações urbanas de tal dinâmica. O objetivo é visualizar a localização e escala de tais produções.

Dados de companhias logísticas nacionais foram transformados em uma rede de eixos e nódulos. Os eixos representam a circulação de commodities entre micro-regiões brasileiras, enquanto os nódulos indicam os pontos centrais de cada uma dessas regiões. Esses fluxos envolvem os quarto tipos de commodities transportadas no país: carga geral, carga líquida, granel sólido agrícola e granel sólido não-agrícola.

O mapa também mostra informações sobre exportação e importação, incluindo tipos de produtos, quantidade comercializada, países envolvidos na transação e os locais de saída e chegada de produtos no Brasil, destacando os portos onde ocorrem essas operações.

Finalmente, o mapa apresenta detalhes complementares tais como a densidade da população de cidades brasileiras, e a localização de campos de petróleo, oferecendo um panorama maior da paisagem dos fluxos materiais e as regiões por eles impactadas no território brasileiro.

Colaboradores: Sérgio Besserman, Philip Yang e Marcela Ferreira

4. Paisagem Fluida - Encontro dos ecossistemas natural e humano

Quão desregulada é a relação entre os ecossistemas humano e natural? 

Paisagem Fluida. Encontro dos ecossistemas natural e humano. Quão desregulada é a relação entre os ecossistemas humano e natural?. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

A divisão meio ambiente / transformações antrópicas se tornou obsoleta devido à impossibilidade de discutir uma das partes sem que se considere a outra. Quando se trata de compreender os sistemas em que vivemos, eles são os dois lados da mesma moeda. 

Porém, tal discussão apresenta um problema de escala. Por um lado, mudanças artificiais tendem a causar um impacto direto e local, enquanto sistemas naturais costumam operar em escalas territoriais e até mesmo globais. Portanto, é difícil perceber as consequências das mudanças em cada um deles. Mudanças agressivas tais como desmatamento, extração de matérias-primas, ou transformações artificiais na paisagem podem não apresentar efeitos imediatos no ambiente local, mas levam a consequências drásticas a longo-prazo e em maior escala. 

Paisagem Fluida. Encontro dos ecossistemas natural e humano. Quão desregulada é a relação entre os ecossistemas humano e natural?. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

As barreiras artificiais criadas por humanos para dividir seu território tem efeito irrisório em conter os efeitos colaterais das suas ações no meio ambiente. A natureza não segue demarcações geopolíticas. 

“Paisagem Fluida” reflete sobre as causas e efeitos do impacto humano em sistemas naturais a partir da perspectiva do processo de urbanização do Brasil, um país de proporções continentais. O mapa demonstra como eventos aparentemente não relacionados, no norte do país – as correntes de ventos próximas à linha do Equador (setas brancas), e a produção de vapor de água pela floresta Amazônica (gradiente azul) – são responsáveis pelo território fértil em que as cidades do Sudeste do país prosperam. 

O mapa também aponta os riscos que nossas cidades enfrentam devido à destruição de nossas florestas, ainda que milhares de quilômetros as separem. O gradiente entre amarelo e vermelho representa a intensidade das emissões de carbono pela perda de biomassa – desmatamento. O mapa enfatiza como o esgotamento da Amazônia contribui não somente para o aquecimento global mas também afeta a possibilidade de manutenção de vida em grandes cidades. 

“Paisagem Fluida” instiga arquitetos e urbanistas a pensar de forma holística sobre a disciplina, entendendo as diferentes escalas que suas decisões podem afetar.

Colaboradores: Antonio Donato Nobre, Paulo Tavares, Álvaro Rodrigues dos Santos 

5. O Mapa não é o Território - O redesenho da fronteira

Quão desimpedido é o acesso à fronteira brasileira? 

O Mapa não é o Território. O redesenho da fronteira. Quão desimpedido é o acesso à fronteira brasileira? . Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

“O Mapa não é o Território” é baseado no princípio que representações cartográficas tradicionais não representam a complexidade das condições territoriais. Ainda que resultado de decisões políticas e históricas, é impossível entender a relação entre territórios baseado somente em linhas de fronteiras. Fronteiras não define monde começam ou terminam identidades. Como alternativa a assumir um papel restritivo, de contenção, a fronteira deve ser representada como uma coleção de sistemas, ecossistemas naturais, grupos sociais, conflitos, pontos de cruzamento e outros elementos que a cercam. A fronteira deve ser vista através de lentes que apontam as possibilidade de intercâmbio, e não de divisão. A fronteira pode ser o lugar em que diferentes estruturas culturais, sociais, físicas, geográficas, ambientais e econômicas se encontram e se complementam. 

A fronteira geopolítica do Brasil tem 16.886 quilômetros de extensão. A zona fronteiriça, porém, engloba uma faixa de 150 quilômetros de largura, dentro dos limites do país. Tal zona foi construída pelos colonizadores espanhóis e portugueses, de acordo principalmente com interesses comerciais. Guiada por obstáculos físicos, incluindo rios, lagos e elevações topográficas, o traçado da fronteira ignorou os habitantes e biomas que já existiam nas regiões. Finalmente, essa linha, parcialmente arbitrária, carrega significados simbólicos e políticos desconectados das caraterísticas físicas do território. 

O Mapa não é o Território. O redesenho da fronteira. Quão desimpedido é o acesso à fronteira brasileira? . Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

O mapa ilustra as muitas camadas que formam a verdadeira fronteira do Brasil. A rotação de 90 graus do mapa enfatiza a imagem da fronteira como muro, e transforma o formato familiar do continente sul-americano. Linhas vermelhas representam as possíveis rotas – via rodovias, hidrovias ou acesso aéreo – pelas quais é possível chegar  o mais próximo possível da fronteira política oficial do Brasil. Elas demonstram a dificuldade (e em alguns casos, a impossibilidade) de acesso à fronteira, expondo o modo em barreiras existentes existem muito antes da fronteira desenhada. A divisão administrativa interna do Brasil e de países vizinhos é substituída por fatores que determinam a experiência desses lugares: a interseção entre biomas e cursos de água; estações de fiscalização da fronteira; cidades-irmãs e aglomerações urbanas; reservas indígenas; áreas de proteção ambiental; missões históricas jesuítas; e portos e aeroportos. 

Além de dados populacionais sobre as principais cidades nas fronteiras, o mapa também apresenta a intensidade das relações entre alguns desses locais, refletindo diferentes níveis de permeabilidade. Finalmente, o diagrama na parte inferior do mapa representa as rotas mais plausíveis para viajar a fronteira, baseado em questões como distância, tempo, custo, e acessibilidade de cada uma das seções ao longo do caminho.

Colaboradores: Ailton Krenak, Gabriel Duarte, Celma Chaves Pont Vidal 

6. Sucessão de Bordas - Narrativas da construção de um pais urbano 

Quão desvinculada de um projeto coeso de pais tem sido a formação urbana do Brasil 

Sucessão de Bordas. Narrativas da construção de um pais urbano. Quão desvinculada de um projeto coeso de pais tem sido a formação urbana do Brasil. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

“Sucessão de Bordas” considera o tema Muros de Ar através da escala temporal do processo de urbanização no Brasil. Uma análise histórica tem como objetivo mostrar os diferentes momentos em que a compreensão sobre o que é Brasil mudou, como resultado de transformações morfológicas no território.

A análise expõe como urbanização não foi um processo uniforme no Brasil, destacando momentos-chave em que a forma do país e da configuração de suas cidades mudou e, por consequência, propôs um novo entendimento do que é o país. Além disso, o mapa reflete sobre a densa concentração de cidades ao longo da costa Atlântica e, simultaneamente, a exclusão de populações indígenas do planejamento de tal expansão urbana apesar de seu papel fundamental na construção do país. 

Sucessão de Bordas. Narrativas da construção de um pais urbano. Quão desvinculada de um projeto coeso de pais tem sido a formação urbana do Brasil. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

“Sucessão de Bordas” mostra a localização de 5.570 cidades, correlacionadas com a data de sua fundação, em uma grande linha do tempo em um mapa sem fronteiras. A linha do tempo é complementada pela história da evolução do país, mostrada em mapas menores na parte inferior. O Tratado de Tordesilhas, de 1494, é o ponto de partida para os desenhos, que retratam mudanças nas fronteiras nacionais e estaduais, até sua configuração atual, que tomou forma em 1991. 

O mapa também contextualiza eventos locais e globais que tiveram impacto na configuração do Brasil. Essenciais em estruturar a evolução do país desde o período colonial até 2017, esses eventos estão organizados em 9 categorias: arquitetura, guerras e conflitos, cultura, economia, nacionais, internacionais, paisagem, política e sociedade.

Colaboradores: Luiz Felipe de Alencastro, Antonio Risério, Iris Kantor

7. Geografia dos Investimentos Imobiliários - Discordâncias entre as agendas do capital e da arquitetura

Quão desobstruída é a agenda do Mercado Imobiliário em relação àquela da Arquitetura? 

Geografia dos Investimentos Imobiliários. Discordâncias entre as agendas do capital e da arquitetura. Quão desobstruída é a agenda do Mercado Imobiliário em relação àquela da Arquitetura?. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

Residências de classes média e alta, prédios comerciais, e shoppings constituem o caráter dos projetos com maior metragem construída no Brasil. “Geografia dos Investimentos Imobiliários” considera o tema Muros de Ar através de uma análise dessa paisagem de prédios ordinários, e das forças que a constroem.

Essa análise considera o mercado imobiliário, especificamente, e o capital, de forma mais abrangente, como as principais forças dando forma às cidades. Ela retrata o panorama da especulação financeira no mercado imobiliário e a concentração geográfica dos investimentos. Expondo a magnitude desse mercado, “Geografias dos Investimentos Imobiliários” espera trazer à tona uma discussão sobre novas questões com as quais a arquitetura deveria se envolver. 

Geografia dos Investimentos Imobiliários. Discordâncias entre as agendas do capital e da arquitetura. Quão desobstruída é a agenda do Mercado Imobiliário em relação àquela da Arquitetura?. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

O mapa apresenta tais aspectos por meio da deformação do território de acordo com a concentração regional do investimento – quanto maior o PIB da cidade, maior o aumento de suas coordenadas latitudinais e longitudinais. Ainda seguindo a lógica da deformação baseada em maiores valores imobiliários, spikes representam a valorização da terra em aglomerações urbanas e rurais – quanto maior o preço, maiores e mais escuros spikes. 

Dados sobre as indústrias de arquitetura e construção civil são incorporados em gráficos de barras que representam o número de empresas e empregados em cada setor. A discrepância entre os números para cada um revela um muro que separa duas atividades que deveriam trabalhar em conjunto. 

Por último, o mapa mostra o impacto do mercado imobiliário na provisão de espaços de lazer e cultura em cidades brasileiras. Por meio de uma comparação entre os números de locais destinados a essas atividades em cada cidade, o mapa combina o número de shopping centers por cidade com o número de equipamentos culturais públicos, como cinemas e bibliotecas públicas, expondo a crescente privatização de espaços de lazer.

Colaboradores: Claudio Bernardes, Danilo Igliori, DataZap e Sergio Castelani, Eudoxios Anastassiadis

8. Habitar a Casa ou a Cidade? - O Impacto do Programa Habitacional Minha Casa Minha Vida 

Quão generosos são os programas habitacionais brasileiros em oferecer o direto à cidade?

Habitar a Casa ou a Cidade? O Impacto do Programa Habitacional Minha Casa Minha Vida. Quão generosos são os programas habitacionais brasileiros em oferecer o direto à cidade?. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

“Habitar a Casa ou a Cidade?” considera o tema Muros de Ar por meio do estudo do programa federal Minha Casa Minha Vida – MCMV, a maior iniciativa habitacional implementada no Brasil. De acordo com o governo brasileiro, 2,6 milhões de casas foram entregues à população. A pesquisa, feita em colaboração com LabCidade – FAUUSP e ETH, mapeia quatro escalas do programa: uma visão geral de seu impacto no país, uma análise dos complexos habitacionais em relação à localização de centros urbanos, e visões detalhas das tipologias desses complexos, como bairros e unidades habitacionais.

Além disso, o mapa apresenta uma linha do tempo da habitação no Brasil, evidenciando aspectos socioeconômicos bem como informações relevantes para cada escala da abordagem, tais como macro e micropolíticas federais desde 1930, déficit habitacional, PIB, crescimento populacional e investimento financeiro. 

Habitar a Casa ou a Cidade? O Impacto do Programa Habitacional Minha Casa Minha Vida. Quão generosos são os programas habitacionais brasileiros em oferecer o direto à cidade?. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

Em termos nacionais, o mapa mostra a grande escala do programa, contendo dados sobre o MCMV em cada cidade do Brasil onde foi implementado. Na escala da cidade, a localização de cada complexo habitacional é mapeada e colocada em relação à análise da renda média por família para cada setor da cidade. Também são incorporadas informações sobre o número de casas construídas para cada nível de renda. Essas informações mostram como as camadas de habitação social destinadas a famílias de menor renda são concentradas nas periferias das cidades. 

Por último, uma seleção de casos nos estados do Ceará, Amazonas, Pará, Rio Grande do Norte, São Paulo e Rio de Janeiro são apresentados para o estudo das tipologias que compõem as unidades do MCMV. Tais casos mostram o isolamento dos complexos habitacionais do contexto urbano e a rigidez do modelo arquitetônico de seu design, destacando os riscos da replicação de padrões de empobrecimento e modificações implementadas em iniciativas habitacionais anteriores.

Colaboradores: Drauzio Varella, Elisabete França, Raquel Rolnik, ETH (Marc Angélil, Rainer Hehl, Patricia Lucena Ventura), Quapa FAUUSP, LabCidade FAUUSP, Rede Cidade e Moradia.

9. Divisões Sólidas - Fronteiras na cidade 

Quão livre é a transposição de limites entre tecidos urbanos distintos?

Divisões Sólidas. Fronteiras na cidade. Quão livre é a transposição de limites entre tecidos urbanos distintos?. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

“Divisões Sólidas” explora o tema Muros de Ar a partir da escala urbana, familiar a arquitetos e urbanistas mas também a todos os habitantes da cidade. Por meio da identificação de locais drasticamente contrastantes com a morfologia urbana, separados abruptamente por divisões naturais ou elementos artificiais, é possível expor as fronteiras internas da cidade

À medida que crescem, cidades encaram desafios similares: infraestrutura precária e insuficiente; canalização de rios poluídos; falta de áreas verdes, parques urbanos e espaços públicos; viadutos, ruas e rodovias que fragmentam o território; o surgimento de lotes murados e monitorados por equipamentos eletrônicos; e, finalmente, uma vida urbana cada vez mais privada, entre muros. 

Divisões Sólidas. Fronteiras na cidade. Quão livre é a transposição de limites entre tecidos urbanos distintos?. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

“Divisões Sólidas” explora os muros presentes em 30 cidades brasileiras. O mapa contrasta elementos naturais tais como topografia e rios, com estruturas artificiais e modificações na paisagem que representam barreiras físicas e divisões no tecido urbano. A identificação dessas estruturas artificiais no território foram extraídas do extenso catálogo desenvolvido pelo grupo de pesquisa Quapa (FAUUSP), que analisa a morfologia e área construída de cidades brasileiras de acordo com parâmetros que definem o nível de segregação em cada bloco da cidade. 

As regiões extraídas da pesquisa do grupo Quapa receberam transparências em quatro tons de vermelho, identificando dez diferentes categorias de barreiras urbanas. Do tom mais escuro ao mais claro, essas barreiras são: 1) áreas não-construídas; 2) áreas residenciais cercadas (condomínios residenciais térreos, condomínios residenciais com mais de três andares, e condomínios habitacionais); 3) cemitérios e grandes prédios horizontais, não-residenciais; e 4) “enclaves” (estruturas de volume baixo, conjunto de grandes prédios espalhados, conjuntos de prédios complexos e horizontais). 

“Divisões Sólidas” convida o público geral a redescobrir elementos urbanos constantemente ignorados. Locais despercebidos passam a ser reconhecidos como elementos divisores do ambiente urbano. Revelando áreas isoladas por diferentes muros dentro das cidades – que já existem dentro de muros – a pesquisa incentiva a discussão das barreiras e muros que determinam as condições e ritmo da vida urbana. Gradualmente, tais muros influenciam a relação entre os habitantes da cidade, bem como sua relação com prédios, condomínios, bairros e o ambiente urbano como um todo.

Colaboradores: Gilson Rodrigues, Marcos L. Rosa, Rodrigo Agostinho, Bruno Santa Cecília, gru.a + o com Escola da Cidade (Pedro Vada (coordenador), Newton Massafumi, Pedro M. R. Sales, Beatriz Dias, Bruna Marchiori, Giulia Ribeiro, Isabela Moraes, Karime Zaher, Marilia Serra, Mateus Loschi, Pedro H Norberto)

10. Criptografia das Relações de Poder - Desobediência e Exclusão na Cidade

Quão liberador pode ser o Pixo em revelar as lógicas de poder da cidade?

Criptografia das Relações de Poder. Desobediência e Exclusão na Cidade. Quão liberador pode ser o Pixo em revelar as lógicas de poder da cidade?. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

“Criptografia das Relações de Poder” considera muros literais como seu objeto de análise para entender o papel do Pixo em subverter as fronteiras entre o público e o privado nas cidades. A prática é uma expressão ilegal que corrobora com a denúncia de problemas críticos de concentração de capital e distribuição de renda no ambiente urbano. Os prédios alvo são prédios de alta classe, marcos emblemáticos e estruturas abandonadas devido às dinâmicas do mercado e transações burocráticas. Eles representam áreas gerais das quais a população marginalizada foi excluída, ou em que a negligência do capital e do governo levou a cidade a ruínas que celebram o abuso de poder. 

Criptografia das Relações de Poder. Desobediência e Exclusão na Cidade. Quão liberador pode ser o Pixo em revelar as lógicas de poder da cidade?. Image Cortesia de Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018

Para revelar os locais que registraram eventos do Pixo e para refletir sobre a lógica de poder na cidade através dessa prática, o mapa foca na área do centro de São Paulo, cidade que é conhecida como o berço do Pixo. Usando dados coletados de 12.853 publicações no Instagram – e portanto engajando a importância de mídias sociais na cultura urbana contemporânea – é possível visualizar a distribuição geográfica das menções a “pixo”, “pixação”, e “xarpi”. Além disso, multas destinadas a infratores e notícias dos últimos trinta anos mencionando Pixo foram georreferenciadas e mostradas juntamente com as correspondentes datas, veículo de mídia e manchete. Juntas, essas informações retratam as diferentes formas como a sociedade vê essa prática, bem como as lógicas de punição que a ela associadas. 

Por último, o mapa cruza esses dados com mais de 40.000 marcas de preços de prédios, por metro quadrado, bem como com emblemáticas instituições culturais que já foram pixadas. Dessa forma, propõe uma reflexão sobre a concentração de poder e a expressão da marginalização do Pixo na cidade.

Colaboradores: Cripta Djan, Kenarik Boujikian, Paulo Orenstein, Victor Carvalho Pinto, Carolina Passos, Escola da Cidade (Pedro Vada (coordenador), Newton Massafumi, Pedro M. R. Sales, Beatriz Dias, Bruna Marchiori, Giulia Ribeiro, Isabela Moraes, Karime Zaher, Marilia Serra, Mateus Loschi, Pedro H Norberto)

Pavilhão do Brasil na 16. Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia 

  • Título da exposição: Muros de Ar
  • Curadoria: Gabriel Kozlowski, Laura González Fierro, Marcelo Maia Rosa e Sol Camacho
  • Comissário: João Carlos de Figueiredo Ferraz, Presidente da Fundação Bienal de São Paulo

Equipe

  • Coordenação: Gabriel Duarte.
  • Arquitetos: Chiara Scotoni, Olivia Serra, Barbara Graeff, Rafael Marengoni, Haydar Baydoun, Heloisa Escudeiro, Miguel Darcy, Giusepe Filocomo, Manoela Pessoa, Leonardo Serrano, Nitzan Zilberman, Catarina Flaksman.
  • Estagiários: Júlia Figueiredo, Larissa Guimarães, Luiz Filipe Rampazio
  • Entrevistas e workshops: Coletivo ENTRE, Ana Altberg (coordenador), Mariana Meneguetti (coordenador), Joana Martins, Juliana Biancardine, Manuela Muller, Michel Zalis, Nathalia Perico, Stephanie Marques
  • Grupos e instituições de pesquisa: Data Zap, Global Forest Watch, Mapping Lab (Carolina Passos), Nexo Jornal, Rede Cidade e Moradia, VIVA Projects, MIT – School of Architecture + Planning (Clarence Yi-Hsien Lee, Collyn S Chan, Cristina Grace Clow, Jaehun Woo, Maia Sophie Woluchem, Marissa Elisabeth Reilly, Nitzan Zilberman, Robert Alva Cain, Yeah Nidam), ETH (Marc Angélil, Patricia Lucena Ventura, Rainer Hehl), FAU USP (LabCidade, Quapa), Cota 760 (Luis Guilherme Alves Rossi, Nicolas Andre Mesquita, Paula Lemos), Escola da Cidade (Pedro Vada (coordinator), Newton Massafumi, Pedro M. R. Sales, Beatriz Dias, Bruna Marchiori, Giulia Ribeiro, Isabela Moraes, Karime Zaher, Marilia Serra, Mateus Loschi, Pedro H Norberto), Consultores de QGIS (Pedro Camargo), Consultores de geologia (Cássio Roberto da Silva – CPRM, Serviço Geológico do Brasil, Cristina Boggi da Silva Rafaelli – Instituto Geológico, Eduardo Soares de Macedo – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Lidia Keiko Tominaga – Instituto Geológico), Universidade Federal do Pará (Graciete Guerra da Costa, Ligia T. Simonian Lopes, Bernadeth Beltrão Rosas Bentes, Rodrigo Augusto de Lima Rodrigues, George Bruno de Araújo Lima, Rebeca Barbosa Dias Rodrigues, Luciane Santos de Oliveira, Stephany Aylla de Nazaré Carvalho Pereira, Glenda de Souza Santos, Rebeca Barbosa Dias Rodrigues, Luciane Santos de Oliveira, Stephany Aylla de Nazaré Carvalho Pereira, Glenda de Souza Santos) 

Produção

  • Arquiteto local: Martin Weigert
  • Produção gráfica: Ligia Pedra
  • Impressão do catálogo: Opero
  • Montagem e trabalho em metal dos mapas: Euroimmagine S.r.l

BIBLIOGRAFIA

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6. Sucessão de Bordas
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7. Geografia dos Investimentos Imobiliários
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Este artigo faz parte da cobertura do ArchDaily da Bienal de Veneza 2018. Os textos foram fornecidos pela equipe de curadores do Pavilhão do Brasil - Muros de Ar.

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Sobre este autor
Cita: Romullo Baratto. "Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza 2018: Muros de Ar - Cartografias" 11 Jul 2018. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/897923/pavilhao-do-brasil-na-bienal-de-veneza-2018-muros-de-ar-cartografias> ISSN 0719-8906

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